Um dia eu percebi que
eu estava grande. Grande demais, porque eu percebi que os livros mentem, as
histórias mentem, os filmes mentem, até os pais mentem. Eu cresci demais pra
continuar acreditando em coisas como papai noel – não que eu realmente tenha
chegado a acreditar – e fada do dente.
Sabe aquela coisa de
tudo dar certo no final, das coisas se resolverem, de você ter sonhos
maravilhosos e realizar todos eles? É tudo mentira. Você realmente se dá mal
muitas vezes na vida. Mas nada disso garante que tudo dará certo no final. Ou
melhor: apenas diz o quanto você não tá preparado e o quanto ainda vai
enfrentar muitas coisas ruins e talvez essa fase não passe nunca. E talvez você
morra.
Eu não gosto muito de
pensar. Pensar em mim, nas coisas que eu vivo, nos meus sentimos... Eu não
gosto de nada disso. Porque eu sou
muita coisa, eu sinto demais. E isso
me prejudica. Muito. Eu nunca estou certa de nada, eu sou insegura demais,
confusa demais. E em dias que eu tenho tempo demais pra pensar, eu fico mal
demais.
E em dias como esses,
eu queria realmente que heróis existissem. Aqueles heróis que sempre aparecem
na hora certa pra te salvar. Eu queria heróis não estilo histórias em
quadrinhos. Mas heróis mais reais, melhores. Queria heróis que pudessem curar o
câncer, a depressão. Heróis que curassem corações partidos. Talvez eles fossem
ficar sobrecarregados de tanto trabalho e entrariam em depressão também.
Heróis não existem. E
isso dói de saber. Talvez porque quando eu fosse menor, eu acreditasse que
heróis poderiam salvar o mundo o tempo todo de super vilões que queriam dominar
o mundo ou escravizar a humanidade. E a verdade é que não existem super vilões
assim. Existem uns bem piores. E o pior dessa história toda é que os heróis
estão quietinhos em seus cantos, com medo de serem mortos pelos vilões. Nas
ficções as coisas não funcionavam assim...
Quando eu era
criança, talvez eu fosse mais corajosa. Eu tinha a audácia de confiar nas
pessoas, eu não tinha medo de falar com alguém, eu não tinha medo de
simplesmente sentar ao lado de alguém e puxar assunto, mas de acordo com o
tempo, eu fui crescendo e eu comecei a ter cada vez mais medo. Medo do colega
da cadeira ao lado, medo de conversar com alguém que eu não conheço, medo das
pessoas, medo do mundo. E eu não sei explicar exatamente porque nem quando isso
começou. As coisas meio que perderam o sentido, perderam a magia e tudo se
tornou meio banal diante dos meus olhos. Eu não consegui evitar. E quanto mais
fui crescendo, a vida foi perdendo um pouco do sentido. Eu tinha meus amigos,
meus sorrisos, minhas coisas, mas mesmo assim... Tudo se tornou tão frágil,
tão... Sem sentido.
E tudo vai caindo,
afundando bem em frente aos meus olhos. E daí talvez tenha aparecido alguém que
me fez ter alguma fé na vida novamente. Era alguém com um sorriso bonito, uma
conversa sem sentido, ideias malucas, corpo maluco. Era tudo meio maluco. O
beijo dela também era maluco. Enlouquecedor. E essa pessoa de repente faz com
que tudo vá por água abaixo novamente. É como se sentir sem chão...
Meu mundo estava
cheio de inseguranças de novo, não é algo que eu possa controlar. Muitas
pessoas vêm e vão... Outras ficam. Umas marcam. Outras machucam. E nada parece
conseguir reerguer meu mundo desmoronado. Talvez ele devesse ficar assim mesmo,
pra sempre. Talvez esse seja o preço a se pagar por ser sensível demais, por
ser demais. Não demais nesse sentido, mas demais como... Ser coisas demais, ser
muito pra mim mesma. E eu talvez tenha me acostumado.
Mas de repente alguém
aparece pra me tirar dos eixos novamente. E sabe... Não é uma coisa normal.
Alguém que me causa arrepios e diz que me ama todos os dias. E... Eu não sei
como lidar. Eu desconfio dela, porque eu já confiei em tanta gente. Eu tento me
afastar, porque já me aproximei de tanta gente. Eu tenho magoar, porque já fui
magoada por tanta gente. Mas ela é como... Eu não sei explicar. Ao mesmo tempo
em que fere cura. É... Incrível. E talvez eu não saiba muito bem como lidar com
toda essa coisa incrível dela, e talvez ela também não. Porque é como se ela
não conseguisse enxergar todos os pontos positivos que eu vejo nela e sabe...
Aquele mesmo mundo destruído que eu tenho em mim, ela tem nela. É como se... Eu
não sei. Eu entendo. Eu sinto. Eu sofro. É como se eu quisesse me tornar herói
de repente. Herói pra poder curar e reconstruir o mundo dela, apenas pra que
ela possa sorrir pra reconstruir o meu. Mas é como se... Não pudéssemos ser
assim. Ela evita. E talvez ela nem esteja sendo tão honesta comigo... E eu...
Eu confio. Meio desconfiando. Meio chorando. Meio sentindo tanta falta dela.
Talvez isso seja tudo coisa da minha cabeça.
Sabe os heróis? Talvez
eles existam... Porque eles querem ser
heróis. Talvez esses heróis não curem o câncer ou corações partidos. Mas talvez
eles mudem a vida de alguém simplesmente porque precisam fazer isso. Talvez
esses heróis salvem as pessoas que eles precisam salvar. E eles não são aquele
tipo de herói perfeito, que faz tudo ficar bem no final. São heróis
imperfeitos, tortos, que cometem erros. E buscam concertar. Mesmo aqueles que
não são seus. Eles concertam seus próprios erros e os erros de quem desejam
salvar. Talvez esse seja o grande segredo dos heróis de alguém. Talvez eu
queira ser o herói de alguém, apesar de achar que preciso mais um herói do que
posso ser. Mas eu gostaria de tentar. Por alguém. É esse o objetivo não é? Talvez eu queira ser herói por ela. Por nós.
Talvez eu só esteja
com sono demais...