sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sem padrão

 Despejei dor, loucura. Transbordei amor, insensatez. As palavras na ponta língua, nenhuma saliva pra ajudar na diluição. E fica cada vez mais difícil conseguir fazer alguma coisa. Porque tudo depende do dizer, dos porquês mal colocados. O mal uso dos atos, das palavras. A coragem que falta na ligação entre o cérebro e o corpo, a coragem que sobra na ponta dos dedos.
 Os olhos facilmente enganados, eu me descuido por um momento. Nada é como eu penso. Deslizar de móveis, arrastar de ilusões, casa bagunçada. Cabeça bagunçada, cérebro desarrumado. Alguém poderia colocar ordem nessa zorra?
 Insensível, gelados demais, corações quentes, bochechas quentes, café quentes. Mas todo o resto é gelo, sem nenhum padrão, sem nenhum defeito, sem nenhuma interrupção. Gelo, gelo e gelo.
 As coisas se tornam difíceis difíceis e difíceis, pesadas e transbordam enquanto você tenta levá-las com cuidado.
 E então acabou.

domingo, 4 de maio de 2014

 Estou derramando. De uma coisa que eu não sei o que é. Quão desesperador é isso? Gostaria que alguém olhasse para meu recipiente no fogo e me avisasse "seu leite está derramando" ou o que quer que seja que está derramando.
 Eu sinto falta de longas noites de sono, de sonhos que não me perturbam o dia todo. Mas mesmo assim sinto vontade de dormir o dia todo. Várias e várias horas de sono como se não precisasse acordar em nenhum momento.
 Eu preciso de um tempo.
 Pra descobrir o que é que tá escorrendo além da capacidade do meu pequeno recipiente.
 Pra tentar achar um jeito de fazer parar de derramar.
 Pra recuperar o sono perdido.
 Pra colocar a cabeça no lugar.
 Pra não enlouquecer.
 Pra voltar a ser feliz.

sábado, 3 de maio de 2014

Desequilíbrio mental

 São coisas sem sentido, sem fundamento. Minha sanidade escorre por entre os dedos, a água escorre por entre meus fios de cabelo. A dor é tão inacreditável. O nó em minha gargante não me permiti gritar. Eu sufoco presa num soluço. Encondo o rosto no travesseiro, deixo uma lágrima cair. Duas, três e quatro. Números não importam mais. Vozes por todos os lados. Insanidade.
 Pensamentos errados nas horas erradas, culpa, pressão. Uma lâmina na mão. Algum sangue pelo chão. Eu deixo a água escorrer, levando o resto da minha boa vontade. A realidade aos poucos se molda ao mundo imaginário e perturbador. Nada é real. Um pensamento pra me prender ao chão.
 Um voo alçado, um milhão de pertubações. Uma melodia mal colocado, minha cabeça está prestes a explodir. Explodir em meio a tanta loucura, tanta gente, falta de oxigênio. Uma vozinha lá no fundo repete que nada é real. Tudo imaginação.
 Eu penso nela, nos beijos que gostaria de dar. Penso quão fútil e superficial se tornou minha existência. Sorrio de leve, andando sobre brasas como se não fosse nada. Cumprimento todos na sala com toda a educação polida que me foi oferecida. Vozes, vozes. Finjo que nada está acontecendo, sorrio mais um pouco.
 Máscara por todos os lados. Minha realidade escapa das minhas mãos por um momento, vejo monstros nos rostos deles. Fecho os olhos pra me concentrar, não perder o equilíbrio. Medo, medo e falsidade. Mais alguns sorrisos. Perco-me tentando colocar de volta as máscaras em todos eles, deixando a minha escorregar um tanto. Recupero o equilíbrio, focando na realidade real. Eles me dizem pra parar de me enganar, eles dizem que é preciso correr, que os monstros só ficarão presos por um tempo. Não há misericórdia quando eles são libertados.
 E eu não corro. Não obedeço. Sei que é um caminho sem volta.
 Comprimidos, café, poucas horas de sono. Mais e mais vozes. Ignoro. Coloco a máscara, deixo-me levar pelo que é certo. Lembro-me dos beijos que gostaria de dar, um grito abafado pela mordida no lábio. Sangue. Visto uma roupa legal, saio de casa sem ter nada na cabeça. Observo algumas pessoas no parque. Alguns monstros aparecem em alguns cantos, eles me assustam. Trato logo de colocar as máscaras de volta, fingindo que está tudo bem.
 Eu caio. Mais comprimidos. Seguro a realidade firme entre minhas pálpebras fracas, tentando se fechar. Luto contra a inconsciência. Remédio no fundo da garganta. Ânsia, nojo. Hipocrisia, preconceito, mortes, roubos. Tento de novo, dessa vez com mais sangue e menos inconsciência. Deixo a água escorrer levando consigo um pouco das incertezas.
 Um tempo sem sair, mais comprimidos e mais e mais e mais e mais comprimidos. Xícaras, garrafas, galões de café. Vozes e mais vozes me dizendo pra correr. As máscaras não conseguem mais se sustentar sozinhas. A insensatez dos meus próprios pés me assusta. Insanidade. E medo.
 Eles me dizem pra correr e eu não corro. Com medo do que posso encontrar no incerto.
 Eu sou finalmente engolida pelos monstros.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Sobre vontades, livros e bandas desconhecidas

 Eu tenho umas músicas que explodem meu cérebro. É tipo um rock não muito pesado, mas suficientemente caótico pra me deixar com vontade de ficar ouvindo-o o dia inteiro e arranjar uma provável surdez. Quem liga para audição quando se tem música boa e suficientemente caótica e alta no seu ouvido?
 Às vezes, me acontecem algumas coisas que me deixam meio frustrada e com vontade de desistir das poucas coisas às quais eu realmente me dedico. Tipo perder todo o trabalho de quase um ou dois anos por um descuido. Sério, isso me deixa completamente sem vontade de continuar me dedicando a tais coisas. Enfim... Isso não é assunto para esse texto.
 Eu tenho andado meio caótica, as músicas só são um reflexo da confusão em mim. Não que algum dia eu tenha sido tipo mpb ou "Balance, nunca nunca desista (balance!)", eu sempre fui mais como legião urbana, sabe... "tenho andado distraído, impaciente e indeciso e ainda estou confuso". Talvez seja por isso que eu goste tanto dessa música, ela me é em gênero, número e grau ou melhor: em letra e melodia. O que é melhor ainda, porque gramática não tem nenhuma magia. Poesia é bem melhor e eu só não escrevo porque não tenho capacidade pra isso. Falando sobre músicas caóticas ainda... Além de ser música caótica que ninguém relativamente normal gostaria de ficar ouvindo o dia inteiro, ainda é de uma banda bem pouco conhecida Aliás, acho mais divertido gostar dela porque ninguém conhece, é como se ela fosse só minha e eu meio que crio um ciuminho bobo em volta, mas é gostoso a sensação de ter uma coisa só isso e só compartilhar com quem você bem deseja porque meio que ninguém conhece.
 Eu tenho meus segredos de estado que nem diz uma música da minha bandinha desconhecida "ninguém pode me encontrar aqui, esse é o meu lugar secreto que ninguém conhece e ninguém vai conhecer". Gosto dessa música particularmente porque me leva a ter uma discussão mental bem interessante. E não vou compartilhar aqui porque ainda não cheguei a nenhuma conclusão decente. Afinal quando é que eu chego à alguma conclusão nessa vida? Eu acho que nunca né
 Eu nem lembro mais qual era o objetivo disso, mas acho que não era falar sobre bandas desconhecidas e minha falta de capacidade de chegar a qualquer conclusão e me posicionar sobre alguma coisa.
 Bom, eu estava lendo um livro agora há pouco que me fez perceber quão medíocre a minha vida toda é. Na verdade, eu percebo isso meio que o tempo inteiro, mas esse pseudo escritor tem um jeito bem peculiar de dizer pra mim que eu não to fazendo nada de produtivo da minha vida e isso realmente borbulha um milhão de ideias na minha cabeça de coisas pra fazer pra ser pelo menos útil pra fazer algo da vida. Se bem que, segundo grande maioria, eu não seria capaz de ser útil pra nada. Concordo em alguns pontos.
 A verdade é que toda essa baboseira e esse falatória desnecessário serviu apenas pra dizer que no final eu só quero ser alguma coisa e preciso deixar de ser preguiçosa e proteladora de carteirinha para isso. E talvez eu desista de uns cinco ou de uns cinco mil projetos antes de resolver efetivamente fazer alguma coisa, como sempre acontece. Mas acho que agora é diferente essa coisa de vontade de fazer diferença, nem que seja apenas na minha própria vida. Acho que tem tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e nada melhor que esse momento caótico de adolescente cheia de hormônios pra tentar fazer alguma coisa decente. Talvez eu não consiga.
 Mas é que a vida é isso mesmo: apostar em cosias que sabemos que vai dar errado porque simplesmente dá vontade de apostar nessas coisas. E se for pra dar certo em alguma ponto, não tem problema quebrar a cara.