sábado, 3 de maio de 2014

Desequilíbrio mental

 São coisas sem sentido, sem fundamento. Minha sanidade escorre por entre os dedos, a água escorre por entre meus fios de cabelo. A dor é tão inacreditável. O nó em minha gargante não me permiti gritar. Eu sufoco presa num soluço. Encondo o rosto no travesseiro, deixo uma lágrima cair. Duas, três e quatro. Números não importam mais. Vozes por todos os lados. Insanidade.
 Pensamentos errados nas horas erradas, culpa, pressão. Uma lâmina na mão. Algum sangue pelo chão. Eu deixo a água escorrer, levando o resto da minha boa vontade. A realidade aos poucos se molda ao mundo imaginário e perturbador. Nada é real. Um pensamento pra me prender ao chão.
 Um voo alçado, um milhão de pertubações. Uma melodia mal colocado, minha cabeça está prestes a explodir. Explodir em meio a tanta loucura, tanta gente, falta de oxigênio. Uma vozinha lá no fundo repete que nada é real. Tudo imaginação.
 Eu penso nela, nos beijos que gostaria de dar. Penso quão fútil e superficial se tornou minha existência. Sorrio de leve, andando sobre brasas como se não fosse nada. Cumprimento todos na sala com toda a educação polida que me foi oferecida. Vozes, vozes. Finjo que nada está acontecendo, sorrio mais um pouco.
 Máscara por todos os lados. Minha realidade escapa das minhas mãos por um momento, vejo monstros nos rostos deles. Fecho os olhos pra me concentrar, não perder o equilíbrio. Medo, medo e falsidade. Mais alguns sorrisos. Perco-me tentando colocar de volta as máscaras em todos eles, deixando a minha escorregar um tanto. Recupero o equilíbrio, focando na realidade real. Eles me dizem pra parar de me enganar, eles dizem que é preciso correr, que os monstros só ficarão presos por um tempo. Não há misericórdia quando eles são libertados.
 E eu não corro. Não obedeço. Sei que é um caminho sem volta.
 Comprimidos, café, poucas horas de sono. Mais e mais vozes. Ignoro. Coloco a máscara, deixo-me levar pelo que é certo. Lembro-me dos beijos que gostaria de dar, um grito abafado pela mordida no lábio. Sangue. Visto uma roupa legal, saio de casa sem ter nada na cabeça. Observo algumas pessoas no parque. Alguns monstros aparecem em alguns cantos, eles me assustam. Trato logo de colocar as máscaras de volta, fingindo que está tudo bem.
 Eu caio. Mais comprimidos. Seguro a realidade firme entre minhas pálpebras fracas, tentando se fechar. Luto contra a inconsciência. Remédio no fundo da garganta. Ânsia, nojo. Hipocrisia, preconceito, mortes, roubos. Tento de novo, dessa vez com mais sangue e menos inconsciência. Deixo a água escorrer levando consigo um pouco das incertezas.
 Um tempo sem sair, mais comprimidos e mais e mais e mais e mais comprimidos. Xícaras, garrafas, galões de café. Vozes e mais vozes me dizendo pra correr. As máscaras não conseguem mais se sustentar sozinhas. A insensatez dos meus próprios pés me assusta. Insanidade. E medo.
 Eles me dizem pra correr e eu não corro. Com medo do que posso encontrar no incerto.
 Eu sou finalmente engolida pelos monstros.

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