quarta-feira, 4 de junho de 2014

Sobre o desespero

 Eu me lembro algum tempo atrás, costumávamos ser felizes. Eram sorrisos jogados nas esquinas por nada, risadas escorridas entre os lençóis por tudo. Costumávamos pensar no futuro como algo bonito, algo legal. Nosso futuro costumava ser tudo o que tínhamos. Planos e mais planos pra coisas realmente mágicas, coisas bonitas.
 Eu me lembro que gostávamos de matar o tempo, matar a aula, matar o tédio. Matar tudo que possa ser saudável matar. Éramos saudáveis. Nossos sonhos costumavam ser compartilhados, assim como quase tudo - desde o lanche até camisas -, sonhávamos as mesmas coisas, chegava a ser quase como nos filmes.
 Eu me lembro de correr. Correr sem motivo, assim como as risadas. Era bonito de ser ver. Beijávamos bocas por beijar, abraçávamos por abraçar, segurávamos as mãos por segurar. E no final do dia, sabíamos que seríamos nós. Costumávamos prometer coisas sem prometer.
 As coisas são bem melhores quando se vive na inocência. Algo nos roubou a felicidade. Você e eu. Nós mudamos, nunca mais fomos as mesmas. Acreditar em sonhos passou a ser bobagem, assim como querer se mudar pra outra cidade. O conformismo se instalou em nós, bem aqui no meio da psique. Planejar magias deixou de ser prioridade, passou a ficar em terceiro, quarto... Em ultimo plano. Mas não tínhamos planejado nada disso.
 Nossos sonhos foram todos roubados. Não se sabe por quem, porque. Triste é olhar dentro de nós... O vazio que nos tornamos. O nada que está aqui dentro. Se bater dá pra ouvir o som oco. Não é como se tivéssemos pedido por isso, não é como se tivéssemos querido isso algum dia. Aconteceu. Aconteceu, aconteceu. Não é como se não quiséssemos nos livrar disso.
 Eu sei, você sabe. Sabemos o quanto é difícil, o quanto está sendo pesado. Carregar um mundo de responsabilidades nos ombros. É como se a vida tivesse perdido a magia. É como se nada mais fizesse sentido. Costumávamos andar de mãos dadas, costumávamos criar nosso próprio mundo e não nos preocupávamos com mais nada. Éramos felizes.
 O problema foi quando esse nada conseguiu se infiltrar no nosso mundo secreto. E ele contaminou tudo com esse tom meio acinzentado. Mas nós precisamos de ajuda com o dinheiro pra tinta, porque acabamos gastando tudo com a conta de luz e de água.

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