segunda-feira, 30 de julho de 2012

Apenas mais uma história de adolescentes - Capítulo 1

Parte 1:
  Era Julho, acho. Estava um pouco frio. Levantei-me, com um pouco da noite anterior ainda na cabeça. Tudo o que tinha acontecido martelava como um sino em minha cabeça. Doía, incomodava. Porque tinha que ficar tudo grudado lá?
 Como muitas vezes durante a noite insone, me vieram à mente algumas imagens. Ele, com aquela garota - da qual eu não sabia nada -, linda, parecia que era tudo o que ele queria. Com aquele shortinho, aquele cabelo ondulado, as coxas grossas, cinturinha fina. Sorriso largo e lindo. As madeixas castanhas pareciam brilhar. A maquiagem a deixava mais linda ainda. Mesmo que a garota me parecesse vulgar de mais, todos os garotos a olhavam. E parecia que o meu garoto estava gostando de estar ao lado da garota desejada.
 Eu não tinha certeza se ele estava com aquele sorriso enorme porque estava com a garota que amava, ou porque estava com a garota mais desejada da noite.
 Quer saber? Não importa. Afinal, Murilo é um idiota mesmo. Não sei por que ainda perco o ar toda vez que vejo aquele lindo sorriso.
 Balancei a cabeça, fui até o banheiro. Era mais ou menos, cinco e quarenta da manhã. Eu havia dormido muito pouco. Aquilo não era um bom sinal. Tomei um banho gelado rápido, me vesti e me olhei no espelho.
 As mechas roxas estavam todas emaranhadas num nó horrível em minha nuca. Peguei uma escova e desfiz os nós, pacientemente. Afinal, tinha bastante tempo.
 Depois, dei uma geral. Os olhos castanhos com leves olheiras abaixo, os lábios mais ou menos, carnudos estavam um pouco pálidos. Eu estava realmente bem? Peguei um brinco qualquer. E quando fui colocar, vi que era o certo. O da pimentinha, o preferido, o da sorte. Era um brinco normal, com um pingente de uma pimenta bem vermelha, nem muito longa, nem muito curta.
 Coloquei os brincos e depois fui escolher dois mais discretos pros três outros furos. Coloquei-os e me olhei de novo. Eu estava aceitável. Se ignorasse um pouco as olheiras, os lábios pálidos e a cara de totalmente morta.
 Peguei um blush e dei uma leve passada nas maçãs do rosto, fiquei com uma aparência melhor. Só mais um gloss. deixaria tudo muito melhor.
 Meus cabelos estavam presos. O que mostrava meu pescoço magro e o maxilar tenso de mais. Soltei-o. Estavam na altura do ombro, e deixavam bem à mostra as madeixas roxas na parte de trás da cabeça. Eu gostava disso.
 Fiquei um tempo me arrumando e quando terminei, deviam ser umas seis e meia. Então peguei minha mochila e desci as escadas da minha casa até a sala, preguiçosamente. Minha mãe estava fazendo café na cozinha, e se surpreendeu quando apareci lá, pedindo uma xícara.
 - O que foi, Nathalia? Porque acordou tão cedo?
 - Sei lá, mãe. Não tava com sono. – peguei a xícara e dei um belo gole. Aquilo ajudaria, mais tarde, na aula. E nas conversas longas com as meninas. – Cadê meu pai? Vai demorar muito pra ele sair pra trabalhar?
 - Não sei, filha. Deve demorar mais uns... 20 minutos.
Ela disse olhando o relógio. Eu suspirei. Teria de ir a pé. Mais 20 minutos, sentada no sofá olhando pra TV não ajudaria em nada no meu bom estado mental.
 Já estava difícil de ficar sem pensar em Murilo e a morena gostosona enquanto falava com minha mãe e tomava café.
 Terminei a xícara de café em poucos segundos, escovei os dentes e sentei no sofá, cansada. Depois, parei de tentar não pensar nele. Levantei-me e fui até a cozinha.
 - Mãe, eu vou a pé, ta? Beijos.
 - Ok, filha, cuidado.
Dei um beijo rápido na bochecha da minha mãe e fui correndo até a porta da casa. Estava chovendo. Torci a boca e coloquei o capuz. Fui andando rapidamente até o colégio – que ficava a algumas quadras da minha casa -, quando cheguei lá, eram mais ou menos, seis e quarenta. Vinte minutos.
 Qual é? O mundo estava de brincadeira né? Não bastava ter a opção de vinte minutos em casa, agora eu teria a não opção de vinte minutos na escola.
 Já não bastava ter pensado no garoto que eu mais amava com outra durante o caminho todo até o colégio? Mas que droga!
 Andei um pouco pelo pátio, aonde era coberto, então encontrei Anita, sentada num banco, vendo seilaoque no caderno. Sorri e corri até ela.
 - Eai, coisa.
Ela levantou os olhos do caderno e, dois segundos depois, sorriu.
 - Oi, nath.
Me sentei ao lado dela, esperando começar uma longa conversa sobre a festa da noite anterior, ou qualquer coisa. Como sempre fazíamos.
 Anita era minha melhor amiga, ela sabia tudo sobre mim. Nos conhecíamos desde a quinta série. E agora estávamos começando o terceiro ano, juntas.
 Ela sabia tudo sobre mim, e eu tudo dela. Éramos como irmãs.
 Como eu esperava, ela começou a falar:
 - Você viu o Murilo com a Lucia?
 - Lucia? Esse é o nome dela?
 - Sim, amiga. Aquela garota é mais rodada que roda de caminhão.
Eu ri da comparação idiota da Anita. Ela sempre fazia comparações ridículas como essa.
 - Que foi? Porque ta rindo?
 - Nada, Ani. Eai, quem já pegou ela?
 - Murilo, Pedro, João, Matheus, Pablo, Lucas, Marcelo, Carlos, Ítal...
 - Perai, TUDO ISSO?
Eu a interrompi.
 - Pois é... E isso é só da nossa área. Imagina os que ela já beijou que a gente não conhece?
Cruzei as pernas e mordi o lábio, nervosa.
 - E o Murilo ainda tem coragem de sair com essa garota?
Anita arranhou a calça e deu um sorriso amarelo. Aquilo nunca era bom sinal. Estralei os dedos e me preparei.
 - O que tem a mais?
Ela olhou pra baixo, ainda arranhando a calça na altura da coxa.
 - Parece que eles estão meio que ficando, Nath.

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