Prendi o ar. O QUE? O MEU
Murilo ficando com uma piriguete daquelas? Porque ele não ficava comigo? Eu o
amava. Droga.
Meus olhos arderam e meu coração acelerou. Respirei
fundo e tentei me controlar. Anita me abraçou. O abraço dela era tão bom que
quase me esqueci porque tinha quase chorado. Sorri.
- Obrigada.
Sussurrei, ainda com um nó
na garganta, se desfazendo aos poucos.
O sino soou. Ajeitei meu cabelo e passei o
indicador de baixo dos olhos.
- Vamos?
- Vamos.
Ela sorriu pra mim, nos
levantamos e fomos pra sala.
Sentei em meu lugar, ainda um pouco tensa.
Segundos depois Murilo apareceu na porta, com a mochila largada nas costas, e
andando daquele jeito largado encantador que só ele tinha. O sorriso estava
iluminado, apesar das olheiras fracas debaixo dos olhos azuis. Os olhos,
aqueles olhos cintilavam. Alguma coisa estava diferente naqueles olhos sempre
muito relaxados e tranqüilos... Havia algo errado, algo como uma tensão...
Me desliguei dos olhos quando ele mexeu a
cabeça, tirando o cabelo dos olhos. Os cabelos relativamente escuros lisos,
estavam com um tom mais claro em algumas partes. Ele tinha clareado no dia
anterior, pra festa.
Ele sorriu e foi até seu lugar. Que, por
acaso, era perto do meu. Ele cumprimentou os amigos e depois sorriu pra mim.
De certa forma, éramos amigos. Quer dizer... Éramos
mesmo amigos, tipo amigos que conversam todos os dias. Quase melhores amigos.
Eu sabia quase tudo da vida dele, o que me deixava cada vez mais apaixonada por
ele.
Uma vez, cometemos o erro de ficar. Ficamos e
foi ótimo. Seria melhor se eu não tivesse me apaixonado por ele.
Eu já sentia algo como uma atração pelo meu
melhor amigo bonitinho, mas depois que nos beijamos aquele sentimento se
multiplicou por um milhão. E não quis mais parar. Meu coração se acelerava ao
máximo só com um abraço depois do nosso primeiro beijo.
Éramos muito amigos, desde... Desde a sexta
serie, acho. Anita gostou dele de primeira. E fui eu quem fiquei amiga dele,
depois disso eles se aproximaram, ficaram e viram que não passaria de uma
amizade, ou de ficantes, ou qualquer coisa assim. Eles, definitivamente, não
eram feitos um pro outro.
Eu lembro como se fosse ontem, quando eu e ele
nos beijamos pela primeira vez. E não foi um beijo qualquer, ou uma coisa de
criança.
Tinha sido no ano anterior, lá pela metade do
ano. Eu ia sempre a casa dele, ficar conversando ou falando qualquer bobagem.
Um dia desses, a gente estava conversando sobre
nossos rolos. Eu estava falando sobre o Marcelo, um garoto com quem eu estava
ficando. Eu gostava dele, realmente. E ele tinha me apresentado aos pais, a
coisa mais formal do mundo. Eu achava que ele gostava de mim, mas depois
descobri que não era bem isso.
Eu estava contando pro Murilo o que tinha
acontecido no nosso encontro do final de semana. Ele estava entediado, muito
entediado.
- Para de falar desse garoto, nath. Nunca vi
gostar tanto de falar de um garoto tão sem sal que nem esse... Marcos...
- Marcelo, garoto!
Ele escondeu um sorriso,
virando o rosto pro lado, tentando ficar serio.
- Ah, esse ai.
Cruzei os braços.
- Eu tenho que agüentar você falando das suas
meninas e você não pode escutar um pouquinho do meu final de semana com meu
namorado?
- É namorado agora? Não era ficante?
Me virei de costas pra ele,
emburrada. Ele era tão irritante! Lembro de ter ouvido uma risadinha dele ao
fundo, abafada por sua mão.
Levantei de sua cama, bastante irritada, e fui
até a sacada. Odiava quando ele me irritava. Fiquei sentada lá, de braços
cruzados, até que ele foi lá, falar comigo.
- Me desculpa?
Ignorei. Ele suspirou e se
sentou do meu lado.
- Para, Nathalia, você sabe que eu não fiz por
mal.
Continuei ignorando.
- Vai ignorar mesmo? Vou ter que apelar mesmo?
Lembro que meu primeiro
pensamento foi confuso, então me lembrei das outras vezes que ele “apelou”.
Então continuei ignorando. Ele colocou as mãos na minha cintura e começou a
fazer cócegas.
- MURILO! – tentei dizer entre risos. Eu
odiava quando ele fazia cócegas em mim – para. Eu te desculpo, para, para.
Ele ria mais que eu, era
uma criança mesmo. Ele continuou fazendo cócegas loucamente em mim, eu estava
sem fôlego já e não conseguia parar de rir.
- Murilo, sério, para.
- Ninguém mandou você me ignorar, agora vai
pagar.
Ele disse, tentando parecer
sério, mas ainda rindo.
- Paaaaaara.
- Pede água.
Ele ria mais que eu ainda,
mas não parava um segundo sequer. Eu não conseguia parar pra poder respirar.
Fiquei bastante irritada.
- Água, água, água, água.
Quando ele parou de fazer
as cócegas torturantes, caiu em cima de mim. Nos olhamos. Foi um momento tão...
Profundo e intenso.
Os olhos dele nos meus, meus olhos nos dele.
Foi a coisa mais intensa que eu já tinha vivido.
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